terça-feira, 12 de maio de 2009

Carne Fresca, Lenha e Lume


São sete da manhã e não sei o que faço aqui. Vejo-os dormir, aninhados uns nos outros, e amigos com amigos, porque amantes não os há, e vejo-os dormir. A noite foi… atribulada… estranha.

E vejo-os dormir. E o que vejo assusta-me… tenho medo do que possa significar, pois é nos sonhos que mais sobre si revelam… mas custa… dói…

Á esquerda do rectângulo onde dormem, o meu lugar, vazio… porque não consigo… dói demasiado…
Logo se enrola em cobertores a anfitriã, como se gritasse por mimo, conforto, ternura.
Também abaixo, ambas sofrem por ausências ou inexistências, e se cobrem, o mais que podem, e se viram para as costas do sofá, ou para o chão, ou parede, e se escondem.
Apenas o que vejo à direita me assusta, me enoja. Vejo oferecer-lhe o leão de plena convicção, e, muito embora o seu boi se defenda por joelhos em riste, todo seu corpo se inclina para ele. A águia rebaixa-se ligeiramente… os braços atrás do corpo ou por baixo da cabeça, deixam o leão desprotegido e vulnerável, e assim lho dão... sem pudor. Apenas o boi me parece mais sensato, contrariamente à norma, que voluntariamente se defende, bloqueia o movimento, protege a sanidade.
Ele, que nada sente, tudo toma como seu, como a quer a ela… sua. E se águia não comanda (que nunca o fez) e leão se fica ressentindo as mágoas do passado, é o boi que toma a liderança: corpo voltado para cima, cabeça para o lado contrário, ventre elevado, pernas recolhidas e ligeiramente abertas. Impuro… Nojento…
E suas mãos, que quase tocavam, parecendo lutar contra qualquer barreira invisível… talvez por mim imposta…

E tal era meu nojo, minha angústia, minha raiva, que não suportava ver tamanha atrocidade. E meus olhos teimavam em fixar, e mais e mais, até mais não restar de mim… e deles, em mim… Porque era tal a sanha… minha Sanha!

E porque, mesmo que apenas em sonos e sonhos, se revelam… sempre.

Porque és inocente e ele te quer, de pobre querer te quer. E não entendes, ou entendes mas não resistes… e ficas… e ele avança… e ficas… e eu o faço recuar.