segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Aqui jaz Miguel Reis


Agora percebo bem a saudade. O não ter. O faltar.

Não há pássaros por estas bandas. Nem tampouco potenciais. Mais, vejo-me comparando este lugar com o dos tentilhões, como se comparação possível houvesse.

A estrada é longa, o céu negro. Não sinto brisa alguma. A barca ondula irritantemente, perturba-me a escrita. Não tenho qualquer assunto de valor, mas escrevo pela necessidade de fugir deste aqui, deste barulho ensurdecedor de quem pouco me vale, e de a quem pouco valho.

Cai a noite. Aqui dentro não há quem pare. A algazarra fere-me os ouvidos. Um silêncio intermitente mantém-me são. Uma voz de mulher que me leva para longe. Mesmo que sem razão. Queixa-se da companhia, identifico-me. Recolhe-se, mas rapidamente retorna à balbúrdia.

Finjo o que querem. Espero apenas pela hora de sair. Lembram-me da natureza humana. Ou apenas da do homem, não sei bem. Qualquer ritual de grupo. Que o homem entidade colectiva se comporta de tão diferente que quando individual. Parece corvo que, outrora altivo, se rende à loucura hitchcockiana.

Cada vez mais sinto o desejo, cada vez mais lhe sinto o sabor. E que em virtude da falta de inspiração o sou obrigado a admitir:

Falta-me o cigarro.