domingo, 22 de janeiro de 2012

Shiu

Sou louco rasgado no tempo pela saudade de falar. Antes, de quem me ouça. Não há orelhas que aguentem, infelizmente. Daí que fale ao ar que não grita e à terra que não mexe. Coitados. Não têm como fugir.

Queixo-me de ninharias estúpidas na pele de quem se julga importante juiz da palavra. Que me acho digno de voz merecedora. Tenho muito que contar, e de muito valor. Não o julgo dos homens, obviamente. Virtude minha, unicamente minha. Cedo a dúvida às formosas apenas porque preciso de justificar a sua formosura. Calha que não as haverá indignas! Calha ingénuo. Se de mim projectam, de mim são reflexo. E nelas vejo nada mais que simples pleno erotismo. O resto é desculpa. Não há nada que lhes valha aquém do rio. É delas a travessia. Barqueiros assim. Quando as não vires chegar, não esperes. Barqueiro és.

Peço perdão. Não te pretendia ofender... Tanto. Por isso um beijo. E por detrás da mulher não vejo a cor. Não preciso. Há que ter fé! Mas minto... Outra desculpa. Quero saber! É no mistério que se reside o impulso. O que me rende inerte em atracção. E não é de amor. É de conforto e bem-estar e bom coito. E o resto é romance. Não que não sinta, mas não é relevante.
Fica agora pedir que poupes a vista da escrita cansada e te rendas ao calor que imaginarás. E do calor brota o conforto, e bem-estar. Da sua libertação, o sexo. Aos púdicos farto-me de desculpas e outros uis. Que se fodam, e que fodam com prazer.

Quando cá chegas, sentas-te ao lado e suspiras. Não falas por vários minutos. Sabes que não te quero nessa voz. Antes há que mudar, melhorar. Tirar prazer de cada som. So aí falas. E dizes: "Anda." E eu vou. Porque a palavra é tua na voz que era minha. Do tempo em que ninguém sabia falar e os pássaros eram dois. E um de verde e um de negro, e dois de branco eram meus lábios frios e expectantes. Ora, não caindo a chuva, não há razão para te escrever com saudade.
E no entanto.