quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Grupo III


"Se, em Os Lusíadas, o velho do Restelo invectiva os navegadores portugueses pela sua ambição desmedida ao partirem para longe, pelo contrário, Miguel Torga afirma "Em qualquer aventura/ o importante é partir não é chegar". Comente e fundamente o seu ponto de vista."


Temos então postos mutuamente em causa não só duas ideias, como na verdade duas mentalidades distintas. A do Velho do Restelo, conservadora e prudente, e a de Torga, audaz e desafiadora.

Se os Lusíadas são do século XVI e Miguel Torga do século XX, é preciso antes de mais salientar que as ideias evoluem. Como tal, é de esperar que a concepção mais recente seja aquela com que mais me identifico. Mesmo assim, julgo que mais que a partida ou a chegada, importante é o caminho. Será claro que não há caminho sem partida, mesmo que o haja sem chegada.

Dizia já Agostinho da Silva que a decisão de partir é a primeira realmente nossa. É um pôr em causa a segurança e prudência, para descobrir o conhecimento. E mesmo que ao conhecimento não se chegue, na partida já o indivíduo evolui. Apenas pelo risco.

Por outro lado, o célebre Velho põe a questão: Valerá a pena? Felizmente é a pergunta de fácil resposta: "tudo vale a pena se a alma não é pequena". O Homem aprende não com o que lê, mas com o que vive. Dizia o ditado: quem não arrisca, não petisca. Quando parte, o Homem sente, vive, aprende e ensina. Parado não há mudança, não há dinâmica. A vida é monótona e insípida. É na aventura, na partida, que reside a verdadeira adrenalina.

Em conclusão, mais valem dois pássaros a voar que um na mão. E é esteticamente mais agradável.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sendo outro, não o seria


Perguntaram-me certo dia um difícil porquê. Um porquê de razões de explicações. Sim, porque há porquês fáceis também. Mas esses são mais parecidos com os comos: requerem palestra. Porque corre o rio ao mar?, pergunta menino. O rio não corre, diz com carinho, o rio está quieto.

Os porquês são assim, espertos e matreiros, nunca se sabe o que nos calha. Nada como os ondes e os quandos: frios e objectivos. Não... os porquês são portas para a imaginação. Se me perguntarem porque corre o rio ao mar, agora não sei, mas com certeza mo dirá o ponto de interrogação. Esse mesmo que, de seu estilo gatafunhado, encabeça a pergunta. Os porquês, meritoso o inventor, são preciosidades léxicas. Daí o compreensível desagrado pela falta de respeito ao digno vocábulo de quando tenho a infelicidade de ouvir dizer: "porque sim" (ou igualmente redutor "porque não"). Insulto às capacidades despoletadoras do porquê e clara limitação do seu potencial! E reparai no excesso: ponto de exclamação precedido por pleonasmo. Se pior me posso expôr.

Mas ponhamos de parte o discurso. Perguntaram-me certo dia um porquê de ser o que sou e daquilo que faço o fazer, de gostar de estar onde estou e das coisas que sei não dizer.