segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sendo outro, não o seria


Perguntaram-me certo dia um difícil porquê. Um porquê de razões de explicações. Sim, porque há porquês fáceis também. Mas esses são mais parecidos com os comos: requerem palestra. Porque corre o rio ao mar?, pergunta menino. O rio não corre, diz com carinho, o rio está quieto.

Os porquês são assim, espertos e matreiros, nunca se sabe o que nos calha. Nada como os ondes e os quandos: frios e objectivos. Não... os porquês são portas para a imaginação. Se me perguntarem porque corre o rio ao mar, agora não sei, mas com certeza mo dirá o ponto de interrogação. Esse mesmo que, de seu estilo gatafunhado, encabeça a pergunta. Os porquês, meritoso o inventor, são preciosidades léxicas. Daí o compreensível desagrado pela falta de respeito ao digno vocábulo de quando tenho a infelicidade de ouvir dizer: "porque sim" (ou igualmente redutor "porque não"). Insulto às capacidades despoletadoras do porquê e clara limitação do seu potencial! E reparai no excesso: ponto de exclamação precedido por pleonasmo. Se pior me posso expôr.

Mas ponhamos de parte o discurso. Perguntaram-me certo dia um porquê de ser o que sou e daquilo que faço o fazer, de gostar de estar onde estou e das coisas que sei não dizer.

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