quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ratos de Biblioteca (2)

É uma nova confortante. É qualquer beleza de outra natureza. Dir-se-á do moreno que é mais sereno. Assim parece, de relance. O andar já não ostenta todo o excesso e volúpia. Pelo contrário, é natural, terreno. Sim que não aviva o sexo, mas dá de um certo carinho. Não revolta o olhar, mais que enche de ternura. É simples e bom. Antes, é amoroso apenas o suficiente.

O cabelo castanho passa-lhe pouco mais que os ombros. Liso e de corte certo, cativa sem inebriar. O corpo magro e elegante, pernas finas, calçado corriqueiro. Uma camisola azul, sem decote, lhe cobre tronco e braços. As gangas justas e agradáveis. Não vejo carne senão a das mãos e pescoço. E alas! Que vejo a cara sem forçar os olhos. Sabe bem apreciar sem a preocupação de controlar a mente e dominar a vista. Não se veste de setas nem se prende no sensual. O que nela sobressai, naturalmente o faz. E estranhamente, nem é o peito que me vejo fitando, mais que os dedos: longos e finos. Quase os penso doces percorrendo o meu corpo tal aranha amável.
Notou-me. Sorriu. Vi-lhe os olhos, do mesmo castanho que lhe tomba dos ombros. Falou à amiga. A voz é quente, a boca pequena e ténue. Não notei pinturas. A pele, pálida, sussura suavidade. E toda a doçura que nela encontro me lembra inocência.

Teve frio, vestiu fino couro. Cai-lhe bem a delicadeza.

Levanta-se enfim. Guarda os livros, um a um, o estojo e a carteira. Os cadernos debaixo do braço. Volta-se e sorri de novo.
Adeus. Gostei de te conhecer.


Ratos de Bilbioteca (1)

Sem comentários: