domingo, 4 de abril de 2010
Sanha minha
Não queiras saber coisas. Fica, apenas. Deixa-te ficar.
A sabedoria não vem do saber. Vem do apreciar.
Aprecia o vazio.
Quando gostares do que vês, aprendes a encontrar o mundo na boca de qualquer amor.
A vida tem apenas três regras:
Paradoxo: A vida é um mistério. Não percas o teu tempo a tentar compreendê-la.
Humor: Mantém um sentido de humor, especialmente àcerca de ti próprio. É uma força maior que qualquer outra.
Mudança: Percebe que nada é imutável.
domingo, 28 de março de 2010
domingo, 14 de março de 2010
10€ a noite
Isto é diferente. Julgo que treino já para não me tomarem pelo novato que sou. Aqui as coisas são diferentes. É estranho dormir com gente que não conheço, gente que nem fala a mesma língua. Sinto que se passasse aqui mais tempo poderia vir a entendê-los, a compreendê-los. Disso, sinto pena já me ir. A bem ver, até gostei da experiência. Não lhe tenho contras.
Tentando discernir as idades, sou provavelmente o mais novo. E dos catorze que assim dormem, sei o nome apenas à rapariga que se deita ali em baixo em sereno e despreocupado sono. Todos os outros me são estranhos, mas familiarmente estranhos. Curioso é que sinto ter maior ligação com estes outros com quem me deito do que alguma vez senti com a rapariga nominável. E digo-o sem qualquer ressentimento. É por partilharmos a experiência, talvez. É por, não conhecendo, nos vermos na fragilidade do sono. Quase como aldeias tribais, dormimos todos sob o mesmo tecto. Somos protegidos uns pelos outros. E há um respeito, uma inter-confiança no ar que nunca vi.
E de pensar que tenho direito a viver isto por dez míseras moedas.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Grupo III
"Se, em Os Lusíadas, o velho do Restelo invectiva os navegadores portugueses pela sua ambição desmedida ao partirem para longe, pelo contrário, Miguel Torga afirma "Em qualquer aventura/ o importante é partir não é chegar". Comente e fundamente o seu ponto de vista."
Temos então postos mutuamente em causa não só duas ideias, como na verdade duas mentalidades distintas. A do Velho do Restelo, conservadora e prudente, e a de Torga, audaz e desafiadora.
Se os Lusíadas são do século XVI e Miguel Torga do século XX, é preciso antes de mais salientar que as ideias evoluem. Como tal, é de esperar que a concepção mais recente seja aquela com que mais me identifico. Mesmo assim, julgo que mais que a partida ou a chegada, importante é o caminho. Será claro que não há caminho sem partida, mesmo que o haja sem chegada.
Dizia já Agostinho da Silva que a decisão de partir é a primeira realmente nossa. É um pôr em causa a segurança e prudência, para descobrir o conhecimento. E mesmo que ao conhecimento não se chegue, na partida já o indivíduo evolui. Apenas pelo risco.
Por outro lado, o célebre Velho põe a questão: Valerá a pena? Felizmente é a pergunta de fácil resposta: "tudo vale a pena se a alma não é pequena". O Homem aprende não com o que lê, mas com o que vive. Dizia o ditado: quem não arrisca, não petisca. Quando parte, o Homem sente, vive, aprende e ensina. Parado não há mudança, não há dinâmica. A vida é monótona e insípida. É na aventura, na partida, que reside a verdadeira adrenalina.
Em conclusão, mais valem dois pássaros a voar que um na mão. E é esteticamente mais agradável.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Sendo outro, não o seria
Perguntaram-me certo dia um difícil porquê. Um porquê de razões de explicações. Sim, porque há porquês fáceis também. Mas esses são mais parecidos com os comos: requerem palestra. Porque corre o rio ao mar?, pergunta menino. O rio não corre, diz com carinho, o rio está quieto.
Os porquês são assim, espertos e matreiros, nunca se sabe o que nos calha. Nada como os ondes e os quandos: frios e objectivos. Não... os porquês são portas para a imaginação. Se me perguntarem porque corre o rio ao mar, agora não sei, mas com certeza mo dirá o ponto de interrogação. Esse mesmo que, de seu estilo gatafunhado, encabeça a pergunta. Os porquês, meritoso o inventor, são preciosidades léxicas. Daí o compreensível desagrado pela falta de respeito ao digno vocábulo de quando tenho a infelicidade de ouvir dizer: "porque sim" (ou igualmente redutor "porque não"). Insulto às capacidades despoletadoras do porquê e clara limitação do seu potencial! E reparai no excesso: ponto de exclamação precedido por pleonasmo. Se pior me posso expôr.
Mas ponhamos de parte o discurso. Perguntaram-me certo dia um porquê de ser o que sou e daquilo que faço o fazer, de gostar de estar onde estou e das coisas que sei não dizer.
Subscrever:
Mensagens (Atom)