quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mémoires d'Outre-Tombe


Diários. Pequenos relatos da vida comum. Pequenas pinceladas de ternura, como que espontâneas, espontaneamente vividas, contadas, escritas …

Que escreves tu, meu amor? Que cousas divinas escreves tu que nem um risco – nem sarrabisco, que desses só um vi – te suja tão curta página? Que te saem as palavras tão seguidas… tão belas… presumo.
Que cousas proibidas escreves tu que nunca meus olhos lá ousam pousar? Que cousas escreves tu, meu amor? Ousando eu certo dia as ler, e reler porventura, quantas delas sobre mim? Sobre nós? Ou aliás, quantas cousas sobre ti? Que escreves tu, meu amor, que de outros não escondes? Que lhes dás como pão-nosso, que devoram e anseiam por mais. Que cousas vividas lhes dás a ler, meu amor? Quantos inteiros dias sabem eles de ti? Quantas intimidades forjadas? Quanto do que sabes escreves tu em curtas páginas? Quanto do que te digo assim o escreves? Quantas cousas saberão eles de ti, de mim?
Ah!... Que entendo enfim, que cousas escritas em curtas páginas não serão cousas de maior… Que lhes dás como apenas para lhes matar a sede, que não te escreves a ti, mas a eles. Que finges tu em diário falso, meu amor? Com que contos e ditos lhes satisfazes a ânsia? Com que minúsculas minuciosidades lhes enches os olhos? Que cousas escreves tu, meu amor? Que já me tento enganar para as não ousar ler. Que me tento iludir que são cousas sem verdade, ou cousas de nada. Meu amor, que escreves tu em tão terna letra, tão apetecível… que seduzes sem sequer o pensar.

Meu amor, que fruto proibido escondes por entre as linhas de tão doce diáriozinho?

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