sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Ratos de Biblioteca


Parece estranha a peculiaridade do olhar parado. É ligeiramente diferente do olhar trabalhador, mas não tem nada de quem mandria. Rodeada de livros, letras e espaços tumultuosamente ordenados. Caos na certeza da escrita. O top justo e a mini-saia. O colete de ganga e as botas castanhas. O observador inexperiente, por sinal desatento e ingénuo, ver-se-á desviado para um corpo perfeito. Seu olhar preso nas pernas esguias ou no traseiro firme. A cara tende a perder importância quando se veste de setas luminosas e faiscantes. O cabelo ondulado remete para as curvas; o peito para o seio; o umbigo nu para a pele bronzeada; a perfeição da anca sinuosa para a cona implícita.
De relance, a cara! E o olhar foge de novo.
Os braços finos e leves, as mãos do mais delicado, que toda se faz de seda e porcelana. Sorriso branco, olhos dourados, cabelo do mesmo. A roupa cobre o suficiente para não esconder carne alguma. Um gesto súbito, e mais um pedaço de corpo se avista. Perfeita.
Parece pecado que se me defronte.

Levanta-se. Saltita na pressa. Tropeça no ar. Guarda os livros, apontamentos e a caneta. Não conheço o assunto. Desaparece na bruma.

sábado, 17 de outubro de 2009

Novidade


Inocente menina. Ainda não te dei um pássaro. Tenho tido pouca inspiração. Pensei em te fazer um outro tentilhão, mas vir em terceiro não é coisa que te calhe bem. Não. O pássaro que encarnares deve ser original, único. Pela mesma razão, não te posso passar o pisco: nojice em segunda-mão. No entanto, julgo que terás grandes semelhanças com os tentilhões. Pelo que não te deverás afastar muito da sua família...
Pensei em toutinegra, talvez rabirruivo, mas não sei... Provavelmente serás um rouxinol, ou pintassilgo, talvez... Terei que me decidir em breve. Não suporto ver-te e não te poder associar. Que uma rapariga sem pássaro é quase que nua e vazia. É preciso preencher o espaço com metáforas e alegorias várias. Quantas mais, melhor!
Mas agora a sério... deixas-me de sorriso na boca. É agradável estar assim. Beijo.

E perguntas se gosto mais do teu cabelo liso ou ondulado. Mas que raio de pergunta foste tu fazer? Deixas-me desconcertado, no bom sentido. Quanto me ri nesse dia! Ah... tão boas memórias tenho... de todas as perguntas que podias fazer... really... sigh... tão inocente, querida mesmo... a maneira como me olhaste, quase bebendo a minha opinião com todo o interesse, toda a adoração, como se te estivesse a dar o segredo da eterna felicidade... uma receita tão delicada que à mínima distracção seria perdida.

Estou contente por ti. Aliás, estou contente contigo. Beijo.

domingo, 11 de outubro de 2009

Redstart


Ultimamente tenho andado aluado. Como se diz... feliz. Anseio pelo final do dia, não pelo descanso do trabalho, mas pela expectativa de te ver. Gosto tanto de saber que chego a casa e estás á minha espera. É-me tão quente o amor que me dás. Esses olhos, que me abraçam tão ternamente, inexplicavelmente belos. Tu, meu amor - meu deus! - que te amo tanto! E que ainda jovem, menina e moça, te amo tanto...
Gosto deste nosso casamento que ninguém suspeita. Que chego exausto a casa e chegas tu de onde vens, e estás ali, para me ver, para me ouvir, como estou eu para ti. E sabe bem saber que por mais que te fale, não te cansas de mim. É tão... não imaginas quão importante és. E ah! que te amo tanto!

Já vou nas ruas a imaginar como será por aí. Se aqui faz sol, lembro as chuvas londrinas. Se aqui chove, penso nos ventos que te levavam os preciosos umbrellas de plástico. E as galochas vermelhas, e o cabelo molhado, e eu a chamar por ti, e os autocarros de dois andares daquele vermelho tão vivo, e os passeios alagados, e as sarjetas entupidas, e os edifícios velhos e sombrios, e o nevoeiro da manha, e como Londres me fez tão bem... e eu a chamar por ti... pelas ruas negras onde os carros andavam ao contrário e os tickets custavam libra e meia. E a tua casa, e o dad na poltrona a ver o manchester, e quantas saudades tenho... e que te amo tanto...
Mas que nos vemos todos os dias, e que todos os dias posso gritar aos céus que te gosto e que te quero, e que todos os dias me olhas e me sorris daquela forma tão única, tão singular, que só tu me fazes feliz como fazes. Tão bela! Tão tu! Que te adoro mais do que alguma palavra to possa dizer. Amo-te tanto!

Vou ao Reino só por ti. Não tenho qualquer outro plano senão o de te ver e te beijar. Que Rainha não vejo outra que não tu. E por ti cruzo os mares, e terei a chance de o fazer assim mesmo. Qualquer desculpa serve! Não quero saber do que acontece depois. Amo-te! Amo-te tanto! Tu, meu amor!

Que só teu nome me inebria, me exalta, me ferve! Que já não sei que escrever! Que já minhas mãos trabalham por si, que já só penso em ti, serena e feliz em fundo londrino. E meus pensamentos já não fazem sentido algum, porque já neles deixei de concentrar minha mente. Estás em todo o lado: na mente, nos olhos, nas mãos, no coração, no papel e na caneta, estás na música que ouço e enquanto morosamente trabalho estás na voz de quem me ensina. E não! Ah! Que me dói o quanto te amo! E saber que me amas mata-me! Mais vivo que nunca! E suspenso no ar, levito, e te amo! E quanto te amo! Tu, meu amor!

sábado, 10 de outubro de 2009

Vero Vivace


Não compreendo o dever da obrigação, o ter que ser que desaponta e entristece. Falho sim, ao dever e à presença. "Porquê?" Mas há-de forçosamente haver razão?! Porquê de tanto porquê?! Ainda que mo pergunteis, não vos tenho resposta tanto como a não quereis ouvir. Que inquiris propositadamente a levar à mentira, apenas para depois mo atirardes à cara! Se não quereis ouvir resposta alguma, se sabeis que não tenho respostas além de mentiras, não mo pergunteis!
Não compreendo porque chorais... não era minha intenção... de todo pretendia insultar-vos, sequer menosprezar vosso trabalho... não... estou-vos grato sim... não compareis meu trabalho ao vosso, que vosso é meritoso. E se não cumpro com o meu, não ouso rebaixar-vos no vosso.

Quereis explicação? Qualquer elucidação?
Não duvideis, julgo-vos parvos.