quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Sarcasmo

A escolha não precisa de ser merecida. É inerente a todo o homem.
O respeito , no entanto, precisa de uma razão de ser. Precisa de ser provado e justificado. Para o merecer, o homem deve fazer o que lhe compete, amando os amigos e odiando os inimigos.

Àqueles que não gostam das maneiras do mundo calham as mais árduas tarefas. Será para dificultar o seu trabalho, porventura para testar as suas intenções. Mas duvido que as regras da natureza sejam aversas à mundança. Pelo contrário, julgo que a fomentam.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Café da manhã

Tomar a decisão. Um ou o outro. Dual, não-dual. Agir, pensar... inverter. Pensa, age. Logo, agora. Ter, haver, ser, pertencer. Enumerar sem razão. Continuar. Um, dois, cinco, dias, meses, hoje, não, hoje mesmo, mas quando, agora, agora, mais tarde.

Fazer o que há para fazer. Paranóia, obsessão, compulsão, sair, ficar, correr. O rio é que corre. Não. O rio está parado. Quando? Agora. Agora não. Quando? Mais tarde.

Tomar a decisão, um ou o outro. Dual, não-dual. Azul, roxo, um nó, não tem, hoje, quando, agora, mais tarde.
Loucura, demência. Não tenho, hoje.

A caneta fala sozinha. Pinta a folha como mármore. A textura dos meus olhos na letra vazia. Não sei do que falo. É irrelevante. Interessa que fale, não pelo assunto, pelo som. Sentir importa, não o sentido.

Vira-se a folha com ternura... toque de carinho. Não sei do que falo. É irrelevante.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Noite Negra

São cerca de 100 metros vazios. Um corredor em palha, quatro portas de feno, e dois cavalos que nos devoram. É esse o sentido da vida.
Não percebeste? Lê outra vez. Fecha os olhos. Avança pelo corredor e escolhe uma porta. Monta um cavalo e pergunta-lhe as horas.
Irrelevante. O sol desce e o sol sobe. Irrelevante. Os verdilhões piam suaves, não há quem os ouça. É irrelevante perceber pelo prazer de conhecer. Se há prazer, que o haja. A compreensão mutila a percepção. Se ouves, ouve! Se vês, vê! Usa os sentidos sem lhes dares sentido algum. Se é belo, que o seja. Esmiuçar é já demais.

São 100 metros vazios e um caminho de palha, Queres saber mais? Tenho-te apenas conselhos. Gostava de largar alguns saberes que me pesam a cruz.
Esta tinta é cansada, o papel mortiço. Escrevo por linhas tortas por falta de clareza, demasiado pensar.

Manteiga na tosta, pitada de sal. Esse, que são lágrimas de Portugal.
Prazeres da vida que nada dizem, nada fazem. Desfrutá-los, apreciá-los. Tudo o resto se resume a isso, resto.
Menina morena era fictícia. Miguel Reis sabia demais. Não há quem, entre gente madura, nos levante do chão.
Mas isso, meus amigos, são coisas mundanas e frugais. Homens percorrendo o caminho do pão.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Utrecht CS

Lembrei-me hoje da sorte que tenho. Não ao jogo, claro. Se bem que ao amor também me falta. Não. Digo sorte na vida. Sorte em quem sou, como sou, quem conheço, o que sei e o que vejo. Preciso notar que tenho noção de que esta é uma sorte algo diferente. Não creio no acaso. Não creio no destino também, já agora. Mas não penso que pense como penso por mera sorte. Como se a lógica que uso fosse obra dos deuses.
Não. Digo sorte de fortuna. De serendipidade.

Tomei as rédeas da vida que é minha. Adivinho coisas boas.

Levante

Enquanto não muda o rumo, fica o caminho o mesmo. Não é de forçar, mas urge mudar, escapar. Não faz qualquer sentido continuar. Aliás, não faz qualquer sentido não aproveitar. Isto de perder tempo é puramente despropositado. Não achas?

Brancos

Porque por muito que olhe vejo-os brancos. Do lume que já se apagou, por certo.

Não tenho grande curiosidade. O saber e o conhecer - o mundo, a cidade, a cama ou o sonho - não me prendem. Estou aqui não pela vontade de ver, mas pela de sentir. Sentir a cidade e o mundo e o sono mas não o sonho. O sonho mente. Mas isso é para outro dia. Hoje estamos diferentes porque onde estamos o é também. Caso não aprenda a lição aqui, cá voltarei, pois é aqui que pertenço. Apenas não com eles.

E se o vento os não ilude, tampouco a chuva os ilumina.
E há que ver que nem todos os deuses nos ditam a sina.



(pelas ruas onde os carros andam ao contrário e os tickets custam libra e meia)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Politiquice


São os dias infindáveis, as horas difusas,
Diálogos mal-estudados e intermitentes
Do procurar pérfidas nojentas musas.
Um homem sai, e a casa volta a ser deles.

É a chuva que cai nas calçadas lamacentas,
A dúvida atroz que a morte desperta,
A torrente insípida que lava as tormentas
E o moço que corre de mente certa.

Ingénua leveza de julgar que se canta
As novidades tornadas em novos saberes.
Sem nada conter, o povo alcança
Fracos pensares com meros dizeres.

E os homens que regem, que falam de nós
De longe e bem alto em tronos postiços,
Não tomam acção senão pela voz.
E o povo especado de olhos mortiços.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Cadência final


e-v - Are you like a crazy person?
v - I’m quite sure they will say so.

Tchaikovsky 1812 Overture

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Cadernos cor-ternura


Menina morena sai à rua. Traz o cabelo apanhado para que não lhe passe a saudade à liberdade. Seus longos formosos caracóis castanhos já há muito não esvoaçam na brisa, bem que vento não falte. Diz que melhor os educa assim: presos. Com tanta convicção o diz que sou tentado a concordar. No entanto – e posto que lhe conferem tal beleza que, inconfundível, é sua apenas – forço-me a dissuadi-la, sempre sem sucesso. Menina não o sabe, mas em segredo, eu faço o mesmo. Daquela forma curiosa como se pegam os hábitos e se partilham ligeiros tiques ou manias, também eu me vejo assim, de cabelos presos – nunca longos e formosos como os seus, claro está – e gostando todavia de presos os ter.

Hipócrita pois. Não o nego. E se somente nisso!... Mas menina morena não o sabe, razão por que não amua nem magoa, nem tão-pouco duvida. Menina morena é assim: inocente que nunca outra. Lembro o dia em que vestiu jardim primaveril, todo ele a fundo azul. Das finas alças de meia falange à saia de cintura cobrindo apenas o cinto das calças de ganga rasgadas e amarfanhadas, traje simples e curto, justo a todo o corpo e por todo um desbotar inúmero de margaridas, tulipas, dálias e amores-perfeitos. Honestamente, não sei se vistoso se parolo. Sua figura rematada pelo fatídico sapato de verniz azul – bem garrido, por sinal – de fivela prateada que, sem meia, lhe encorrilhava até a pele do pé despido. Quase que nem andar podia menina morena. Faltava-lhe só o tacão de palmo para juntar à loucura. Inocente menina morena. Seu armário, assim o julgo, estará repleto de pequenas preciosidades inimagináveis, soberbas na sua insanidade, belas por um todo que, sem ela, se constataria numa feia insignificância, motivo de chacota, matéria para fogueira. Seu armário, julgo, estará repleto de bonitas meninezas.

Menina morena sai à rua. Seu passo leve, levemente o chão beijando. Cada toque, cada doce toque em bicos de pés, como que amores pousados com carinho e afeição. Embeleza a calçada com fios de cetim que lhe caem dos ombros, que os vai espalhando distraidamente com carícias de nervoso miudinho. Eu, cá do fundo, mal escondo a ansiedade. Menina morena faz-me disto – e com a displicência de quem desfaz um nó –: sai menina morena à rua; e saio eu, por culpa sua.

É-me quase já vício sair assim parado, seguindo pássaros com o olhar, admirando o seu cantar, tentando delinear com o dedo o seu voar. Passo o tempo enquanto espero por menina que desça. O banco enferrujado já me conhece, me reconhece ao longe, e por mim se mantém vago. Eu, receando desapontá-lo, não ouso faltar, saciando a sede e alimentando o vício.

E que sem dor, sem dó qualquer, a espero paciente.

Foi coisa que aprendi a guardar, paciência. Que nem há tempo me exaltava ou enraivecia, menina morena me pacienta, apazigua. É calmante, a doçura e a beleza. Que como doce recheado me vejo saboreando a brisa outonal. Que bem me vou sonhando acordado, escrevendo de olhos cerrados o que a mente nega e o coração cega. Sempre esperando por menina que desça.

Doçuras várias de sabores inúmeros vai minha alma provando. Aqui um beijo, acolá ternura. Doces regionais de quem não tem forno ou fervura.

E eis então menina que sai. Fecha a porta com um baque, treme do frio, guarda as mãos nas algibeiras e segue. O vento acaricia-lhe a face. Carinhosamente, como quem afaga um bebé, lhe passa o cabelo para as costas, suavemente planando. Ela sente, e não esconde o prazer. O terno mimo como uma mão de amor, de amado. Que sente no vento o olhar cúmplice e o beijo grato. Fá-lo por mim, sussurra-me de longe. Seus lábios de ar são projecção dos meus, e menina sabe que cada carícia, cada toque soprado é meu, mesmo que pelo vento. Vejo-me forçado a recorrer a Éolo por fraqueza do sopro. A mim que me falta o ar, é difícil beijar ou falar, ou a seu lado caminhar. Limito-me a estar… amorosamente estando.

Menina não me conhece e não me vê. Não me fala nem me ouve. Menina não está em mim e não me sente. Não se lembra dos dias, das noites. Seus espaços e tempos não sabem de mim. E não, não são devaneios de narrador. Foi ela mesma quem mo disse.


Miguel Reis

domingo, 16 de maio de 2010

600 à meia-noite.


Quantas vezes te escrevi já, e quantas não me lembrei do teu cheiro.
Hoje que o trago comigo, sinto-te mais a falta.

Duas páginas em branco e uma vírgula só.

domingo, 2 de maio de 2010

Cogita Tute


Finjo falando falácias, fundamentais fraquezas de um farsante fariseu fechado sem fereza, sem fôlego. Faço-o forçado, não me fitem de fraude! Sou físico, não filantropo! O fingimento fascina-me, é essa minha falta. Farto-me da fútil fatalidade do fado. Minha franca mais feliz fantasia é o findar da tua fatuidade. Que mais farei por fluir que uma face florida? Folgo em ficar fiel à fortuna, feliz pelo fantástico. Findado o final, o fim.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Teatro


Tenho em mim firme a noção de mentira. Tenho em mim forte o sentido de actor. A hipocrisia toca-me apenas no mais vil sentido. Tirem-me daqui a metafísica, não sou de Campos, nem de Caeiro. Meu é o sentido lato das coisas. O nascente e o poente.

Cansado de saber o passado, ou de o tentar adivinhar.
Que fácil é viver a vida sem coisas para ponderar!
Ah! Era quem me desse um bocado de pão e um balde fundo onde o cagar.
Era isso e um cobertor. Estava dita a minha vida antes de sequer a começar.
Sei que isto de saltar no tempo é tudo muito bonito, até alguém perceber as coisas que se passam… e as que se hão-de passar.
Basta um rato mais burro, ou um burro mais rato, para fazer um altar.
E depois vem Deus dizer que não se pode imaginar.
Bem vistas as coisas, há apenas que pensar, e decidir o que vale a pena guardar.
A seguir é fácil: manda-se todos matar.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Os pilares possantes à porta postados


Se, por acaso do destino, vieres parar a esta porta
Não batas, não faças por entrar. Fica-te apenas absorta
Em pensamentos que não são teus nem de ninguém
Até de entre sonhos murmurar tão febril pedido, "Vem".

domingo, 4 de abril de 2010

Sanha minha


Não queiras saber coisas. Fica, apenas. Deixa-te ficar.
A sabedoria não vem do saber. Vem do apreciar.

Aprecia o vazio.
Quando gostares do que vês, aprendes a encontrar o mundo na boca de qualquer amor.

A vida tem apenas três regras:
Paradoxo: A vida é um mistério. Não percas o teu tempo a tentar compreendê-la.
Humor: Mantém um sentido de humor, especialmente àcerca de ti próprio. É uma força maior que qualquer outra.
Mudança: Percebe que nada é imutável.

domingo, 28 de março de 2010

Um gostinho de silva


Sair não é a questão. Sair todos conseguem.
O truque está em sair, ficando.

domingo, 14 de março de 2010

10€ a noite


Isto é diferente. Julgo que treino já para não me tomarem pelo novato que sou. Aqui as coisas são diferentes. É estranho dormir com gente que não conheço, gente que nem fala a mesma língua. Sinto que se passasse aqui mais tempo poderia vir a entendê-los, a compreendê-los. Disso, sinto pena já me ir. A bem ver, até gostei da experiência. Não lhe tenho contras.
Tentando discernir as idades, sou provavelmente o mais novo. E dos catorze que assim dormem, sei o nome apenas à rapariga que se deita ali em baixo em sereno e despreocupado sono. Todos os outros me são estranhos, mas familiarmente estranhos. Curioso é que sinto ter maior ligação com estes outros com quem me deito do que alguma vez senti com a rapariga nominável. E digo-o sem qualquer ressentimento. É por partilharmos a experiência, talvez. É por, não conhecendo, nos vermos na fragilidade do sono. Quase como aldeias tribais, dormimos todos sob o mesmo tecto. Somos protegidos uns pelos outros. E há um respeito, uma inter-confiança no ar que nunca vi.

E de pensar que tenho direito a viver isto por dez míseras moedas.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Grupo III


"Se, em Os Lusíadas, o velho do Restelo invectiva os navegadores portugueses pela sua ambição desmedida ao partirem para longe, pelo contrário, Miguel Torga afirma "Em qualquer aventura/ o importante é partir não é chegar". Comente e fundamente o seu ponto de vista."


Temos então postos mutuamente em causa não só duas ideias, como na verdade duas mentalidades distintas. A do Velho do Restelo, conservadora e prudente, e a de Torga, audaz e desafiadora.

Se os Lusíadas são do século XVI e Miguel Torga do século XX, é preciso antes de mais salientar que as ideias evoluem. Como tal, é de esperar que a concepção mais recente seja aquela com que mais me identifico. Mesmo assim, julgo que mais que a partida ou a chegada, importante é o caminho. Será claro que não há caminho sem partida, mesmo que o haja sem chegada.

Dizia já Agostinho da Silva que a decisão de partir é a primeira realmente nossa. É um pôr em causa a segurança e prudência, para descobrir o conhecimento. E mesmo que ao conhecimento não se chegue, na partida já o indivíduo evolui. Apenas pelo risco.

Por outro lado, o célebre Velho põe a questão: Valerá a pena? Felizmente é a pergunta de fácil resposta: "tudo vale a pena se a alma não é pequena". O Homem aprende não com o que lê, mas com o que vive. Dizia o ditado: quem não arrisca, não petisca. Quando parte, o Homem sente, vive, aprende e ensina. Parado não há mudança, não há dinâmica. A vida é monótona e insípida. É na aventura, na partida, que reside a verdadeira adrenalina.

Em conclusão, mais valem dois pássaros a voar que um na mão. E é esteticamente mais agradável.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sendo outro, não o seria


Perguntaram-me certo dia um difícil porquê. Um porquê de razões de explicações. Sim, porque há porquês fáceis também. Mas esses são mais parecidos com os comos: requerem palestra. Porque corre o rio ao mar?, pergunta menino. O rio não corre, diz com carinho, o rio está quieto.

Os porquês são assim, espertos e matreiros, nunca se sabe o que nos calha. Nada como os ondes e os quandos: frios e objectivos. Não... os porquês são portas para a imaginação. Se me perguntarem porque corre o rio ao mar, agora não sei, mas com certeza mo dirá o ponto de interrogação. Esse mesmo que, de seu estilo gatafunhado, encabeça a pergunta. Os porquês, meritoso o inventor, são preciosidades léxicas. Daí o compreensível desagrado pela falta de respeito ao digno vocábulo de quando tenho a infelicidade de ouvir dizer: "porque sim" (ou igualmente redutor "porque não"). Insulto às capacidades despoletadoras do porquê e clara limitação do seu potencial! E reparai no excesso: ponto de exclamação precedido por pleonasmo. Se pior me posso expôr.

Mas ponhamos de parte o discurso. Perguntaram-me certo dia um porquê de ser o que sou e daquilo que faço o fazer, de gostar de estar onde estou e das coisas que sei não dizer.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mémoires d'Outre-Tombe


Diários. Pequenos relatos da vida comum. Pequenas pinceladas de ternura, como que espontâneas, espontaneamente vividas, contadas, escritas …

Que escreves tu, meu amor? Que cousas divinas escreves tu que nem um risco – nem sarrabisco, que desses só um vi – te suja tão curta página? Que te saem as palavras tão seguidas… tão belas… presumo.
Que cousas proibidas escreves tu que nunca meus olhos lá ousam pousar? Que cousas escreves tu, meu amor? Ousando eu certo dia as ler, e reler porventura, quantas delas sobre mim? Sobre nós? Ou aliás, quantas cousas sobre ti? Que escreves tu, meu amor, que de outros não escondes? Que lhes dás como pão-nosso, que devoram e anseiam por mais. Que cousas vividas lhes dás a ler, meu amor? Quantos inteiros dias sabem eles de ti? Quantas intimidades forjadas? Quanto do que sabes escreves tu em curtas páginas? Quanto do que te digo assim o escreves? Quantas cousas saberão eles de ti, de mim?
Ah!... Que entendo enfim, que cousas escritas em curtas páginas não serão cousas de maior… Que lhes dás como apenas para lhes matar a sede, que não te escreves a ti, mas a eles. Que finges tu em diário falso, meu amor? Com que contos e ditos lhes satisfazes a ânsia? Com que minúsculas minuciosidades lhes enches os olhos? Que cousas escreves tu, meu amor? Que já me tento enganar para as não ousar ler. Que me tento iludir que são cousas sem verdade, ou cousas de nada. Meu amor, que escreves tu em tão terna letra, tão apetecível… que seduzes sem sequer o pensar.

Meu amor, que fruto proibido escondes por entre as linhas de tão doce diáriozinho?

sábado, 23 de janeiro de 2010

N.E.K.O.

”Wake up…” A soft voice called from behind a veil. “Wake up…” Something wasn’t quite right, it seemed. Be it the soft mist that covered the entire area, be it the enchanting song deafening him, something wasn’t quite right. “Wake up…” And again, inebriated, he heard that same voice. "I’m sorry… I’ve grown tired of it all… My mind isn’t what is once had been… This new found solitude I’m trapped in is far too unsettling, I fear I might not endure it for much longer… I’m sorry…" And as he walked into the mist, to the mermaid’s calling, he felt there was no way out of his own life. "Maybe I should end it all… Maybe I should…" Again and again he spoke these silent words. For some reason, saying it to himself made it easier to keep on into the unknown, into what whatever his puppeteer had placed there for him. “Wake…” As an echo of a distant cry, he was no longer aware of anything but his uncertainty. “… up.”

The mist slowly cleared and he came to a halt. As he regained his composure and vaguely took in his surroundings, he dropped his head and bathed himself. His fringes dripping the same blood-red water he was covered in up to his waist, he felt his head a bit lighter, whereas his feet were drenched and his sandals weighing down prevented any movement. Fortunately, he was still sober enough to take them off, should he have the strength to lean down. Still, while concluding his abashed reasoning, something turned odd yet again. "Wait… Wasn’t I wet?" He quickly scanned his body for any drop of water, any sign he’d just be inside a lake. "Wait… Lake? Where’s the lake?" His mind still bleak from whatever hideous curse, "Right, the lake evaporated from all this heat. Must’ve been that." He stopped his train of senseless thought to try to make out where he was. Finding no comfort in doing so, he resumed the scan of his own skin, for the mere satisfaction of looking at something familiar. Nevertheless, skin there was none. He was not man, and didn’t recall ever being man. I am bird. I am hawk. “Wake up… ”

Oh! And what beautiful hawk he was! Just under a meter long, with wings that extended over 6 feet. His dark hair had given in to a grayish plumage covering his entire body, except for his head and the tip of his wings where the feathers came to a wood-like brown. His beak, twisted downwards at the end, was half-gray half-black as most hawks’. And in awe at what he’d always been, ecstatic for this new peace of mind, he was bird no more. He rose with a smile on his face, his long protruding wings opened wide from his back. Part man, part hawk, he ran for a while, not knowing where to go, stuck in that fake world, but free within his mind. With a quick jump and a flick of wings he took the skies. And at long last he’d found himself. As he was not bird, not man, but both.

“Wake up Crand.”

Non Existencial Knowable Object

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Não te invejo, tenho-te dó.


Quarto escuro e sombrio, que no amor de quem desgosta, me deixas só e deslocado.
É o não ter a mão, a boca, que me desfaço em tinta. É no pensar demasiado que me, recatado, olho e divago. No entanto, e não culpando ninguém que não eu próprio, é em ti que escrevo.
De não entender ou de todo o querer entender, me faço mouco e cego. Não vivendo, não pecando. Digo isto porque estranho a falta daquilo que mais inerente é à condição. Se amados se dizem, por donde os carinhos, por donde os beijos e abraços, a ternura de amar? Cuidados de casa? Tomam porventura que, sabendo eles da imprópria condição que dizem estabelecer, não cuidem ou maldigam? De facto, de louvar não é. mas não penso haver razão para tanto. Assim como se apresentam, de amados têm apenas a palavra. Nada mais.

Parece jogo de crianças. Que parvoíce! De ter o que se deseja e não o demonstrar. Por pena ou por timidez ou a merda que for. Gozam, troçam de mim no meu egocêntrico sozinho lugar. Que mo atiram na cara, as semânticas e as palavras, sem que me deixar ver um só fruto do que dizem ter. Nem peço um beijo, ou sequer um olhar cúmplice. Apenas um toque! Uma carícia despercebida! Um carinho que fosse! Nada...

Mas que raça de amados é esta que não se toca?

E a indiferença! O completo desprezo à saída! Vai um e leva seca despedida, que nem se olham: sai convidado levado a achar a porta por seu mérito, que anfitriã da poltrona não se levanta.